Dança dos Figurinos: entrevista com Marco Paulo Rolla

“A roupa é muito mais do que a roupa…”

O Marco Paulo Rolla é um grande artista mineiro que temos a alegria de compartilhar muitos trabalhos e momentos artísticos ao longo da nossa trajetória.

Ele iniciou conosco muito jovem, fazendo o figurino do espetáculo “Carne viva” (1990) e foi o figurinista que acompanhou o Grupo por todas as décadas de trabalho, com experiências por diversos elencos, propostas e condições de produção.

Músico, cenógrafo, figurinista, performer, artista plástico, ele é um artista amplo e, da mesma maneira, uma pessoa com uma capacidade incrível de criar, sentir, doar e trocar. Essa polivalência colabora muito na construção da dramaturgia de uma obra, onde sua visão e trabalho nos auxiliaram na construção e potencialização de personagens.

Ele nos contou dos preconceitos que enfrentou no início da sua carreira, quando optou pelas interações entre artes, e nem sempre foi acolhido com isso. Se sentia dissonante no mercado mineiro, ainda que tenha encontrado importantes mestres e parceiros que o valorizaram e fortaleceram nessa caminhada e escolha. Nesse aspecto, nos sentimos com imensa afinidade com ele.

Alguns dos espetáculos do Primeiro Ato que ele fez a concepção de figurino, são: “Isso aqui não é Ghottam City”, “Tigarigari”, “Desiderium”, “Sem Lugar” e “Mundo Perfumado”.

A nossa conversa foi longa e um importante recado que ele deixou para os artistas mais jovens sobre o processo de criação é: você pode! Encare, viva os buracos, e acredite. Ele discorreu sobre aspectos que envolvem a arte e a ciência, ressaltando a importância do erro na criação, do vazio, do que está para ser descoberto, pois, sem isso, não tem como avançar.

Outro ponto importante foi sobre as questões sociais que envolvem o nosso país, o mercado da moda mundialmente e da produção de tecidos. Para ele, temos que encarar a realidade da importância de reciclar materiais, re-significar e valorizar o que já está no mundo.

Marco Paulo também destacou a importância do prazer, de se ter um sentimento bom sobre o que está fazendo, enquanto está fazendo. Mesmo que haja um trabalho árduo e alguns tipos de pressão, o objetivo não pode ser o sofrimento. As artes permitem a transformação de linguagens, matérias e sentidos, e assim, podemos aproveitar os processos para nos transformar também.

Uma dica para as editoras nacionais: tá faltando livro sobre criação de figurinos no mercado!!! E também, materiais de pesquisa com interseção entre as artes. Para ele, é necessário um maior aprofundamento nesse tema em cursos nas diferentes regiões do Brasil. Da mesma maneira, que a indústria têxtil fica meio polarizada e em alguns locais do nosso território, os saberes e acessos sobre o mundo dos figurinos também.

Ao final, houve um lindo agradecimento e revelação da importância da mãe no reconhecimento do artista. Assim como na história do Pablo Ramon, a mãe do Marco Paulo foi uma importante incentivadora do seu percurso artístico e pessoal. Em comum com o Ronaldo Fraga, os desenhos e o fato de colorir os tapetes nas festas festivas mineiras, influenciaram a vida do artista.

De modo geral, a arte na infância de todos os figurinistas entrevistados até o momento, principalmente o desenho, foi marcante e influenciadora no futuro. No caso do Marco Paulo, sua infância no interior de Minas Gerais o proporcionou experiências fortes também com a música e com o teatro, o que leva em sua trajetória e interseções artísticas.

Essa entrevista foi feita no contexto do nosso Projeto de Pesquisa apoiado pela #leialdirblancmg (https://www.secult.mg.gov.br/leialdirblanc).

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