“Fazer dança também é criar espaços para o diálogo”. Essa foi uma das frases que inaugurou a nossa entrevista com o Tuca Pinheiro, no contexto do Projeto Dança dos Figurinos #leialdirblancmg (https://www.secult.mg.gov.br/leialdirblanc).
Ele já foi bailarino do Grupo e realizou a concepção coreográfica de três dos mais importantes projetos do nosso repertório: “Sem Lugar” – inspirado na obra e pessoa de Carlos Drummond de Andrade; “Beijo… nos olhos, na alma, na carne” – a partir da obra de Nelson Rodrigues; e “Desiderium”.
Ao longo da nossa conversa um dos pontos recorrentes foi a importância da escuta: de si mesmo, do outro, do mundo, das obras artísticas e do que elas carregam enquanto potência. Tuca nos lembrou de prestar atenção aos detalhes da vida, que nos convidam a mergulhar em diferentes aspectos da existência.
Ele conheceu o Primeiro Ato assistindo ao espetáculo “Carne viva” (1990). Pouco depois, quando a Suely Machado assistiu uma performance dele e do Alex, ela sentiu afinidade e sintonia na maneira de fazer e sentir a dança, com apoio no lúdico e uma sensação de transformação de dentro pra fora. Na época, ele já estava se aproximando do grupo e esse momento foi decisivo, pois o convite se tornou oficial e ele entrou participando do processo do trabalho “Isso aqui não é Gotham City” (1992). Abaixo, temos a sua imagem em um dos personagens da obra:
Em 1996 foi o início das aventuras na concepção e direção coreográfica, com o trabalho “Desiderium”. Tudo começou com brincadeiras de partituras coreográficas e uma profunda pesquisa sobre o desejo. Ele se viu atendendo a um chamado, que segundo ele, o levou pra outros caminhos depois. Os aspectos visceral e orgânico marcaram o trabalho, com estéticas da circularidade, as simbologias da maçã e dimensões do desejo.
Lodo depois, ele passou uma temporada na França e levou a biografia do Nelson Rodrigues: “O Anjo Pornográfico”, escrita pelo Ruy Castro. Esse foi o início do profundo processo da obra “Beijo”.
“Não queríamos retratar os personagens, mas eles vinham. Todos sabiam que iam cair no abismo, mas iam dignos, atendendo ao chamado. Eles caiam nas suas próprias armadilhas”. Com apuro cênico, uma bela trilha sonora e cenário, com muito cuidado e lapidação em todos os detalhes, essa, sem dúvidas, foi uma das obras mais importantes do grupo.
A cena que mais o marcou foi a do chá, onde as pessoas iam se deteriorando e tudo virava uma festa.
E o solo da Marcela Rosa, depois da cena das bodas de prata, com um vestido histórico que foi usado na inauguração da Casa do Baile em BH.
“Eu vi o vestido dançar, ondulando, caindo, levantando, uma generosidade imensa da artista”.
“O importante é estar feliz no processo, ainda que haja angústia criativa no corpo (…) a arte não pertence ao campo da exatidão, cada um constrói a sua lógica, ela habita a ordem do impensável (…) e nós precisamos entender a coreografia da escrita, da literatura.” – Tuca.
Ele nos contou como o figurino do “Beijo” estava associado as questões da época de Nelson, a glamurização dos anos 50, enquanto o do “Sem Lugar” tinha o tom mais modernista, seco, com cortes mais retos. A roupa de fru-fru e a de plástico foram os pontos fora dentro do contexto dessa obra.
Para Tuca, o melhor figurino é o que desnuda a intimidade do bailarino.
Com relação aos objetos cênicos, forte em todos esses trabalhos, ele destacou a importância da multiplicidade de sentidos: “não são as coisas em si, mas as possibilidades”. No Desiderium, por exemplo, as cadeiras foram passarela, cadeiras mesmo, representaram também a chegada do homem a lua, entre outros. As maçãs eram compradas em vários tipos (mais fofas, outras firmes e pequenas, outras grandes), cada uma com uma função em cada cena.
O cenário marcante dessa obra, que modificava muito com a iluminação, foi construído coletivamente e manualmente na nossa casa em BH.
Por hoje, vamos ficar por aqui. E em breve, traremos mais novidades!
Abraços da equipe 1 ATO.